Por Guilherme Giotti Sichelero
A Grande Fome irlandesa de 1845-1849 foi um evento de suma importância para a formação da Irlanda moderna, assim como das classes trabalhadoras da Inglaterra e Estados Unidos. A fome que atingiu a ilha não foi somente uma recorrente crise de subsistência – tão comum em economias e sociedades pré-capitalistas -, mas, ao contrário, foi engendrada pela colonização inglesa e, além disso, foi parte essencial do processo de industrialização capitalista inglês. Nesse sentido, esse artigo busca defender a tese de que a causa estrutural da fome irlandesa pode ser encontrada no modelo colonial aplicado pela Inglaterra, que possuía três pilares principais: a transformação da economia irlandesa em exportadora de matérias-primas e alimentos, a existência de um mercado de terras via arrendamentos e a solidificação de uma economia interna de subsistência baseada na produção da batata.
Há um famoso ditado popular mexicano, atribuído ao ditador Porfirio Díaz, que sintetiza, de modo genial, a relação do país latino-americano com o seu vizinho do norte: “Pobre México, tan lejos de Dios y tan cerca de Estados Unidos”. Essa relação entre, de um lado, uma potência capitalista industrial e, do outro lado, os seus vizinhos empobrecidos e atrasados não foi nenhuma novidade do imperialismo norteamericano. A Inglaterra, muito antes, já havia posto os povos das Ilhas Britânicas para trabalhar em favor do seu próprio desenvolvimento capitalista, cabendo a maior parte do ônus desse processo para a rural, agrária e camponesa Irlanda. Nesse sentido, dentro desse contexto, uma das principais consequências do modelo colonial inglês aplicado na ilha foi a Grande Fome de 1845-1849 – segundo Eric Hobsbawm a “maior catástrofe humana da história europeia”[1] ocorrida durante a primeira metade do século XIX (1789-1848).
O modelo colonial inglês aplicado na Irlanda possuía três pilares principais: a) a transformação da economia irlandesa em exportadora de commodities (sobretudo grãos) para abastecer o mercado interno inglês, isto é, nesse sentido, produzir alimentos para uma crescente população urbana e matérias-primas para a emergente indústria inglesa – além da exportação de uma força de trabalho barata e numerosa; b) a existência de um mercado de terras (via arrendamentos) e o parcelamento da propriedade agrária; c) uma economia camponesa de subsistência voltada à produção da batata como alimento principal de consumo da maioria da população irlandesa – a economia da batata.
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A revolução industrial inglesa teve como principal consequência para a Irlanda um reforçamento da ruralização[2] e a especialização na exportação de commodities, assim como a desurbanização e o declínio da produção manufatureira interna[3] (que possuía um importante e tradicional setor têxtil), ou seja, enquanto a Inglaterra se industrializava, a Irlanda passava por um processo de “desindustrialização”[4], que ocorria em favor do desenvolvimento econômico inglês. Evidentemente que o estabelecimento de uma economia prim